segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Por que Devemos Analisar o que Lemos?




O Espiritismo, até mesmo por seu aspecto triplo (ciência, religião e filosofia), exige um estudo constante de seus adeptos de modo a manter sempre na mente os princípios básicos da Doutrina evitando distorções em seus postulados além de ajudar na interpretação de fatos novos à luz da Doutrina Espírita. Devido à grande projeção que o Espiritismo vem ganhando na mídia e aos altos índices de vendas de livros espíritas não param de surgir novos livros, novas editoras, novos médiuns e espíritos escritores de olho nesse mercado visando apenas ganhos monetários ou pessoais. Além desse aspecto extremamente negativo existe um ainda pior que são as deturpações que estão sendo insinuadas por essas obras pseudo-espíritas que apresentam, além de utilidade e qualidade duvidosas, ensinamentos completamente contrários aos princípios básicos do Espiritismo e que muita gente aceita por falta de estudo e critério. Mesmo após mais de 150 anos de Espiritismo, muitas pessoas ainda cometem erros primários aceitando tudo que os espíritos falam e escrevem sem o mínimo critério de bom senso e introduzindo no movimento espírita práticas e ensinamentos completamente contrários aos codificados por Allan Kardec.


Para analisar as obras ditas espíritas devemos ter em mente alguns conceitos que podem ajudar bastante a clarear a questão. Entre esses conceitos o mais básico e profundo nas conseqüências e que muitas pessoas esquecem ou menosprezam é que, nas palavras de Kardec:
“Uma idéia quase geral entre as pessoas que não conhecem o Espiritismo é crer que os espíritos, somente porque estão livres da matéria, tudo devem saber e possuírem a soberana sabedoria. Aí está um erro grave.
Os espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não adquirem a perfeição deixando seu envoltório terrestre.
(...) Como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e maldade, ocorre o mesmo com os espíritos. Há os que são apenas levianos e traquinas, outros são mentirosos, trapaceiros, hipócritas, maus, vingativos; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes virtudes e o saber num grau desconhecido na Terra. Essa diversidade na qualidade dos espíritos é um dos pontos mais importantes a se considerar, porque explica a natureza boa ou má das comunicações que se recebem; é em destingi-las que é preciso, sobretudo, se aplicar.”1


O trecho é bastante claro por si só e só ele já deve fazer com que todos tenham mais critério ao ler um livro dito espírita. Porém as razões para termos mais atenção com as leituras não param por aí, em “O Livro dos Médiuns” capítulo 24, Kardec traz inúmeras considerações feitas sobre a questão da identidade dos espíritos, ponto fundamental e que está em conexão com trecho transcrito anteriormente. Lá vamos encontrar que segundo Kardec essa é umas das questões “mais controvertidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo”2, porém em certos casos ela não é tão importante, como no caso em que a comunicação traga coisas dignas do nome que a assina. O problema reside “quando um espírito, de ordem inferior, se adorna de um nome respeitável para dar crédito às suas palavras”3 caso que o Kardec diz ser muito frequente e complementando ainda a questão Kardec nos diz que “se a identidade absoluta dos espíritos, em muitos casos, é uma questão acessória e sem importância, não ocorre o mesmo com a distinção dos bons e dos maus”4.


Então levantamos a questão: como, nesse caso, julgaremos se um espírito é bom ou mau? Mais uma vez o Codificador vem esclarecer que “julgam-se os espíritos, nós o dissemos, como se julgam os homens, pela sua linguagem”5. E ainda mais adiante fecha a questão nos passando um roteiro que deveríamos tornar um hábito na análise de qualquer livro ou mensagem que se diga espírita: “Submetendo todas as comunicações a um exame escrupuloso, perscrutando e analisando o pensamento e as expressões como se faz quando se trata de julgar uma obra literária, rejeitando sem hesitar tudo o que peca pela lógica e pelo bom senso, tudo que desminta o caráter do espírito admitido a se manifestar (...). Repetimos: esse meio é o único, mas é infalível, porque não há má comunicação que possa resistir a uma crítica rigorosa.”6 Ainda sobre este aspecto o Espírito São Luís esclarece: “(...) há uma recomendação que nunca é demais repetir (...) é a de pesar e amadurecer, é a de submeter ao controle da razão mais severa todas as comunicações que receber; não negligenciar, desde que um ponto vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro (...).”7 O Espírito Erasto também faz um alerta de prudência quanto ao que lemos, principalmente quanto às supostas novidades que tantos livros pretendem trazer, ele nos diz que: “(...) vale mais repelir dez verdades do que admitir uma só mentira, uma só falsa teoria.”8


Passando adiante levantamos outro ponto, se não devemos considerar as comunicações dos espíritos senão antes de uma análise profunda, podemos nos escorar na credibilidade do médium para considerarmos uma obra digna ou não de confiança? Claramente que a moral do médium é um bom indicativo dos espíritos que o assistem, mas isso não é regra e deve-se considerar também se realmente conhecemos a moral do médium e mesmo no quadro mais favorável jamais deve estar o médium, seja quem for, e as comunicações que recebe isentos da análise mais criteriosa possível, pois não existe perfeição na Terra e como dizem os espíritos “o melhor é aquele que, não simpatizando senão com os bons espíritos, foi enganado o menos frequentemente.”9


Aos amigos que queiram exemplos de análises de mensagens que podem e devem ser aplicados aos livros ditos espíritas aconselho a leitura em “O Livro dos Médiuns” do capítulo 31 da Segunda Parte do livro no item denominado de “Comunicações Apócrifas” onde Allan Kardec realiza análise comentada de várias comunicações demonstrando seus erros e o modo que alguns espíritos enganadores insinuam suas mentiras.


Por fim gostaria de deixar mais um alerta feito pelo Codificador sobre a qualidade e a relevância que as mensagens devem ter para serem levadas ao público quando nos diz que “antes de mais, convém dela afastar tudo quanto, sendo de interesse privado, só interessa àquele que lhe concerne; depois, tudo quanto é vulgar no estilo e nas idéias, ou pueril pelo assunto. Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal, mas o que deve ser entregue ao público exige condições especiais. Infelizmente o homem é propenso a imaginar que tudo o que lhe agrada deve agradar aos outros.”10


Assim meus amigos espero que este humilde trabalho contribua, pouco que seja, para esclarecer quanto ao cuidado que devemos ter ao nos depararmos com obras que se entitulam espíritas. Longe de nós desaprovarmos a leitura dessa ou daquela obra, ou desse ou daquele autor ou médium, mas apenas buscamos alertar quanto à postura ideal para a nálise dessas obras de forma a darmos o justo valor a cada uma.


Que Deus nosso Pai de Justiça e Amor possa nos abençoar sempre e que Jesus nosso modelo e guia jamais deixe de ser nosso objetivo a alcançar e a bússulo a nos orientar. Um abraço a todos.



Referências:
[1] Kardec, Allan. O que é o Espiritismo. IDE. 2008. Pág. 173. Item 9.
[2] _____. O Livro dos Médiuns. IDE. 2003. Segunda Parte. Cap. 24. Ítem 255.
[3] _____, _____. Ítem 256.
[4] _____, _____. Ítem 262.
[5] _____, _____. Ítem 263.
[6] _____, _____. Ítem 266.
[7] _____, _____.
[8] _____, _____. Cap. 20. Ítem 230.
[9] _____, _____. Ítem 226. Questão 9.
[10] _____, Revista Espírita, Maio de 1863. FEB. Pág. 219.